A palavra integridade tem a ver com “característica ou circunstância do que se encontra inteiro; atributo do que não sofreu diminuição; totalidade ou plenitude; 2. (Figurado) Qualidade do indivíduo que é íntegro; peculiaridade de quem é digno, honrado ou honesto; que não é possível corromper; 3. (Figurado) Designação de quem apresenta comportamentos ou ações que demonstram equidade, dignidade ou honestidade; probidade ou justiça” (“Integridade.” Em: léxico: dicionário de português online).
Na versão portuguesa (Almeida
Revista e Atualizada – ARA) de Deuteronômio a palavra
“todo(s)/toda(s)” (tradução de lk
- e suas variações) aparece em todos os capítulos.
Moisés faz uso desta palavra 230 vezes no livro de Deuteronômio. O
fato de existir tanta repetição desta palavra indica que a
integridade (o todo) estava frequentemente na mente do Escritor
sagrado, e, isto pode ser facilmente perceptível: toda a lei
deve ser lida, aprendida, ensinada, obedecida; a obediência a Deus
deve ser em todas as áreas da vida, não apenas visivelmente,
mas também internamente (obediência parcial é desobediência); o
amor a Deus deve ser de todo o coração, toda a alma e
de toda a força, etc.
Em todo o livro de Deuteronômio
é possível enxergar a necessidade de integridade. Nos capítulos
iniciais (Dt 1-4), Moisés mostra que a fidelidade de Deus,
comprovada na história é a razão para a exigência da lealdade e
integridade por parte do povo da aliança. Na sequência (Dt 5-28),
podemos perceber que tanto as estipulações gerais quanto as
específicas, focam, não apenas os atos externos, mas também no
estado do coração, ou seja, Deus exige inteira obediência da parte
do Seu povo, isto é, integridade. Quando os termos da aliança são
“postos à mesa” (Dt 29-30), o povo é convocado a anuir à
aliança em integridade. Por fim (Dt 31-34), temos a despedida de
Moisés, o cântico e a bênção enfatizando a integridade de Deus
em benefício do povo e a necessidade do povo reagir à altura.
Vejamos como o tema “integridade” se desenvolve em todo o livro
de Deuteronômio.
O Prólogo Histórico (Dt
1-4)
Na primeira parte do livro, o
prólogo histórico, após descrever a ocasião do livro e as partes
envolvidas no tratado, YHWH e Israel, o autor destaca os atos de Deus
em favor de Israel.
Já no primeiro versículo do
livro podemos ler que o alvo de Moisés foi alcançar todo o Israel
com suas palavras, ou seja, na íntegra, toda a nação estava sendo
convocada a conhecer e se comprometer com o pacto. A integridade de
Moisés como o mensageiro do Senhor e mediador da aliança é
evidenciada ainda no primeiro capítulo (v.3), quando diz que ele
falou conforme tudo o que o Senhor lhe mandara.
No livro de Êxodo, a geração
passada (em relação à geração em Deuteronômio) havia entrado em
um pacto com o Senhor. Os primeiros versículos de Deuteronômio visa
trazer a memória da nova geração, que apesar da desobediência e
infidelidade deles e de seus pais, YHWH havia se mantido fiel e
absolutamente leal, retirando-os do Egito com mão poderosa, guiando
e protegendo por todo o percurso no deserto e disciplinando Seu povo
com equidade.
Estando nas planícies de Moabe,
na fronteira da terra prometida, o Senhor daria ordens para entrar e
conquistar o território (1.6-8), porém, esta ordem é precedida por
uma exortação: Seus pais não entraram trinta e oito anos atrás
porque foram infiéis, desleais e desobedientes (1.26-27). Apesar de
uma confissão de pecado por parte do povo naquela ocasião (1.41), o
Senhor não os permitiu entrar, pois o Senhor vê o coração e
naquele momento não enxergou integridade por parte do povo da
aliança.
O capítulo 2 registra que
durante toda a peregrinação o Senhor abençoou Israel de todas as
formas (v.7). No entanto, toda aquela geração morreu pela mão do
Senhor devido à desobediência. Ainda assim, chegando em Moabe, o
Senhor trouxe medo a todos os povos e os Israelitas conquistaram,
pelo auxílio do Senhor, as cidades de Hesbom e Basã (2.24-3.11).
Israel não estava apenas diante
da terra prometida, estava também perante o Senhor. Exatamente neste
momento, Israel foi lembrado que a lei de Deus reflete a Pessoa de
Deus, e como fundamento da nação é a base do julgamento de Deus.
No capítulo 4 entendemos que, por mais que Israel jamais deixará de
ser povo de Deus, sua permanência na terra prometida dependeria de
sua obediência e fidelidade a lei de Deus.
Santos afirmou que “o próprio
fato que o livro está na forma e estilo de um texto pactual
pressupõe que o relacionamento pactual entre Yahweh e Israel é o
maior interesse” (2016, p.17), concordamos com o autor e afirmamos
ainda que a fidelidade de Deus não apenas testemunhada pelos
israelitas, mas também indicada e prometida nos termos do pacto,
garantem uma fidelidade absoluta por parte de Deus e exige lealdade
absoluta por parte do povo da aliança.
SANTOS, Pedro E. C. Exegese em
Deuteronômio. Natal: SIBB, 2016 “material não publicado”.
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