terça-feira, 28 de novembro de 2017

Refletindo...

A respeito da Bíblia: “Suas doutrinas são santas, seus preceitos são obrigatórios, seus relatos são verídicos, e suas decisões são imutáveis. Lê-a para que te tornes sábio, crê nela para que fiques seguro, e pratica-a para que sejas santo. Ela contém luz para orientar-te, alimento para sustentar-te, e consolo para animar-te. É o mapa do viajante, o bordão do peregrino, a bússola do piloto, a espada do soldado, e a carta magna do crente.”
Autor desconhecido.

DEUTERONÔMIO: A Integridade no Texto do Pacto - parte 1/3


A palavra integridade tem a ver com “característica ou circunstância do que se encontra inteiro; atributo do que não sofreu diminuição; totalidade ou plenitude; 2. (Figurado) Qualidade do indivíduo que é íntegro; peculiaridade de quem é digno, honrado ou honesto; que não é possível corromper; 3. (Figurado) Designação de quem apresenta comportamentos ou ações que demonstram equidade, dignidade ou honestidade; probidade ou justiça” (“Integridade.” Em: léxico: dicionário de português online).
Na versão portuguesa (Almeida Revista e Atualizada – ARA) de Deuteronômio a palavra “todo(s)/toda(s)” (tradução de lk - e suas variações) aparece em todos os capítulos. Moisés faz uso desta palavra 230 vezes no livro de Deuteronômio. O fato de existir tanta repetição desta palavra indica que a integridade (o todo) estava frequentemente na mente do Escritor sagrado, e, isto pode ser facilmente perceptível: toda a lei deve ser lida, aprendida, ensinada, obedecida; a obediência a Deus deve ser em todas as áreas da vida, não apenas visivelmente, mas também internamente (obediência parcial é desobediência); o amor a Deus deve ser de todo o coração, toda a alma e de toda a força, etc.
Em todo o livro de Deuteronômio é possível enxergar a necessidade de integridade. Nos capítulos iniciais (Dt 1-4), Moisés mostra que a fidelidade de Deus, comprovada na história é a razão para a exigência da lealdade e integridade por parte do povo da aliança. Na sequência (Dt 5-28), podemos perceber que tanto as estipulações gerais quanto as específicas, focam, não apenas os atos externos, mas também no estado do coração, ou seja, Deus exige inteira obediência da parte do Seu povo, isto é, integridade. Quando os termos da aliança são “postos à mesa” (Dt 29-30), o povo é convocado a anuir à aliança em integridade. Por fim (Dt 31-34), temos a despedida de Moisés, o cântico e a bênção enfatizando a integridade de Deus em benefício do povo e a necessidade do povo reagir à altura. Vejamos como o tema “integridade” se desenvolve em todo o livro de Deuteronômio.
    O Prólogo Histórico (Dt 1-4)
Na primeira parte do livro, o prólogo histórico, após descrever a ocasião do livro e as partes envolvidas no tratado, YHWH e Israel, o autor destaca os atos de Deus em favor de Israel.
Já no primeiro versículo do livro podemos ler que o alvo de Moisés foi alcançar todo o Israel com suas palavras, ou seja, na íntegra, toda a nação estava sendo convocada a conhecer e se comprometer com o pacto. A integridade de Moisés como o mensageiro do Senhor e mediador da aliança é evidenciada ainda no primeiro capítulo (v.3), quando diz que ele falou conforme tudo o que o Senhor lhe mandara.
No livro de Êxodo, a geração passada (em relação à geração em Deuteronômio) havia entrado em um pacto com o Senhor. Os primeiros versículos de Deuteronômio visa trazer a memória da nova geração, que apesar da desobediência e infidelidade deles e de seus pais, YHWH havia se mantido fiel e absolutamente leal, retirando-os do Egito com mão poderosa, guiando e protegendo por todo o percurso no deserto e disciplinando Seu povo com equidade.
Estando nas planícies de Moabe, na fronteira da terra prometida, o Senhor daria ordens para entrar e conquistar o território (1.6-8), porém, esta ordem é precedida por uma exortação: Seus pais não entraram trinta e oito anos atrás porque foram infiéis, desleais e desobedientes (1.26-27). Apesar de uma confissão de pecado por parte do povo naquela ocasião (1.41), o Senhor não os permitiu entrar, pois o Senhor vê o coração e naquele momento não enxergou integridade por parte do povo da aliança.
O capítulo 2 registra que durante toda a peregrinação o Senhor abençoou Israel de todas as formas (v.7). No entanto, toda aquela geração morreu pela mão do Senhor devido à desobediência. Ainda assim, chegando em Moabe, o Senhor trouxe medo a todos os povos e os Israelitas conquistaram, pelo auxílio do Senhor, as cidades de Hesbom e Basã (2.24-3.11).
Israel não estava apenas diante da terra prometida, estava também perante o Senhor. Exatamente neste momento, Israel foi lembrado que a lei de Deus reflete a Pessoa de Deus, e como fundamento da nação é a base do julgamento de Deus. No capítulo 4 entendemos que, por mais que Israel jamais deixará de ser povo de Deus, sua permanência na terra prometida dependeria de sua obediência e fidelidade a lei de Deus.
Santos afirmou que “o próprio fato que o livro está na forma e estilo de um texto pactual pressupõe que o relacionamento pactual entre Yahweh e Israel é o maior interesse” (2016, p.17), concordamos com o autor e afirmamos ainda que a fidelidade de Deus não apenas testemunhada pelos israelitas, mas também indicada e prometida nos termos do pacto, garantem uma fidelidade absoluta por parte de Deus e exige lealdade absoluta por parte do povo da aliança.



SANTOS, Pedro E. C. Exegese em Deuteronômio. Natal: SIBB, 2016 “material não publicado”. 

terça-feira, 21 de novembro de 2017

A INTEGRIDADE COMO EXIGÊNCIA DO PACTO Uma introdução ao livro de Deuteronômio

O título deste livro em português (“Deuteronômio”) é um tanto enganoso. Seu significado literal é “segunda lei”, o que tem gerado duas ideias opostas e ao mesmo tempo errôneas: 1. O livro se trata de uma repetição da lei (SANTOS, 2016, p.1); 2. O livro traz uma nova lei, em relação ao que foi dada no Sinai (CRAIGIE, 2013, p.17).
No entanto, o título hebraico deste livro é bem mais apropriado, pois consiste nas primeiras palavras do livro “Estas são as palavras” (Dt 1.1). De fato este título descreve melhor o conteúdo do livro, pois, “a maior parte do livro consiste das palavras que Moisés dirigiu a Israel imediatamente antes da entrada na terra prometida” (CRAIGIE, 2013, p.17).
O estilo do livro de Deuteronômio é homilético, com um forte tom exortativo, visando levar a congregação de Israel ao compromisso e obediência ao Senhor por meio da aliança. Deuteronômio, como um texto pactual, segue os padrões dos tratados formais de sua época, como o tratado hitita, mas esta literatura vai além de um mero texto pactual, pois inclui discurso de despedida de Moisés, itinerários, narrativas, exortações, hinos etc, Deuteronômio tem um gênero bem variado (SANTOS, 2016, P.8). É imprescindível lembrar que, a semelhança dos tratados vassalo-suserano da época, a aliança com o Senhor já havia sido realizada por uma antiga geração, no Sinai, e agora estava sendo reafirmada pela nova geração.
A aliança no Sinai fora feita entre o Senhor e uma nação libertada da escravidão do Egito e prestes a atravessar o deserto rumo a terra prometida, jornada esta que poderia ter durado algumas semanas, entretanto durou trinta e oito anos devido a desobediência e falta de confiança do povo da aliança. Apesar de todo o Israel ter anuído à aliança com o Senhor, durante todo o percurso, desde o Sinai até as planícies de Moabe, demonstraram falta de compromisso e lealdade. Por outro lado, Deus sempre se manteve fiel à aliança com seu povo e demonstrou misericórdia e bondade por amor aos patriarcas e aos remanescentes fiéis. Por toda a jornada pelo deserto, o Senhor os conduziu em segurança, suprindo cada uma de suas necessidades.
Agora, o povo da aliança estava nas Planícies de Moabe, prestes a atravessar o Jordão e conquistar os cananeus (que estavam amedrontados) para tomar posse da Terra prometida a seus pais. Os israelitas adultos desta época não faziam parte da geração passada que fizera aliança com o Senhor, por isto a necessidade de renovação da aliança. Outra razão para esta necessidade se deu pelo fato de que os judeus passariam a ter um modo de vida radicalmente diferente do que tivera anteriormente durante a peregrinação, estariam vivendo de forma fixa em um ambiente que brevemente se tornaria urbano. Tudo isto evidencia a necessidade de novas instruções e da renovação da aliança. Esta nova geração precisava conhecer suas origens e compreender cada termo da aliança para igualmente anuir ao pacto com o Senhor (MERRIL, 2009, pp.378-379).
A renovação era especialmente necessária porque Moisés, o mediador da aliança, estava prestes a morrer, por isto, além da renovação, fez-se necessário um registro escrito dos termos da aliança – o pentateuco, especialmente o livro de Deuteronômio. A pessoa de Moisés era intimamente ligada à aliança, como supõe Craigie “para muitas pessoas, a pessoa de Moisés e a aliança devem ter parecido inseparáveis” (2013, p.29). A renovação da aliança indica que o líder, de fato, da nação é Deus, não Moisés. Em seus últimos momentos, Moisés exorta o povo à sinceridade, obediência e lealdade a Deus e ao Seu novo co-regente Josué, pois disto dependia a vitória sobre os inimigos e a permanência na terra prometida.
A chamada aliança Mosaica, é do gênero suserano-vassalo, e como diz Santos, “uma aliança feita entre um Grande Rei e um povo vassalo deve ser renovada por seus sucessores com o passar das gerações” (2016, p.6). Nas palavras de Craigie, a aliança entre Deus e seu povo
era a constituição da teocracia. Deus era rei e havia, para si mesmo, resgatado seu povo do Egito. O povo, que tudo devia a Deus, teria de se submeter a ele em uma aliança de amor [...] Enquanto os outros pequenos Estados políticos serviam como vassalos do Egito ou do Império hitita, os israelitas deviam lealdade somente ao seu suserano Deus (2013, p.19,23).

CRAIGIE, Peter C. Deuteronômio. São Paulo: Cultura Cristã, 2013.
MERRILL, Eugene H. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Shedd, 2009.

SANTOS, Pedro E. C. Exegese em Deuteronômio. Natal: SIBB, 2016 “Material não publicado”

Revista Ênfase Cristã - 3ª edição.

Saiu a nova edição da Revista Ênfase Cristã. Desta vez, o periódico traz como destaque o tema "Dispensacionalismo" por meio de uma enriquecedora entrevista com o Professor Michael Vlach.

Acesse o link e aproveite este e outros conteúdos para a sua edificação.
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