segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

DEUTERONÔMIO: A Integridade no Texto do Pacto - parte 2/3

As Estipulações Gerais (Dt 5-11)
Esta etapa do livro de Deuteronômio também começa com um chamado a todo o Israel, a fim de ouvir, aprender e obedecer aos estatutos e juízos do Senhor (5.1). Aqui, como em 1.1 e ao longo do livro, pode-se perceber que “todos os israelitas estavam obrigados como membros da comunidade da aliança” (CRAIGIE, 2013, p.144), porém, a ênfase no ouvir e na obediência mostra a importância do aspecto individual desta obrigação. Moisés, como mediador da aliança, era igualmente devedor de uma vida íntegra diante de Seu Deus (5.31-33).
O capítulo 5 funciona como uma espécie de eixo para o livro de Deuteronômio. Este capítulo trata do decálogo, as exigências mais básicas e gerais da aliança deuteronomista. O decálogo foi dado pelo próprio Deus no Sinai, o qual não fora revogado a pesar da infidelidade de Israel por todo o percurso no deserto. De fato, a aliança no Sinai é a base do relacionamento entre Deus e Israel, por isto foi citado em 5.2-3. No entanto, “deve-se insistir no fato de que a aliança era mais do que uma lista de estipulações. Era fundamentalmente um relacionamento entre Javé e Israel (cf. 4:13,14)” (THOMPSON, 1982, p.109).
O capítulo 6 discorre sobre aquele que Jesus viria a afirmar ser o maior de todos os mandamentos (Mc 12.29-30). De uma forma ainda mais enfática, a ordem de guardar, transmitir e cumprir todos os estatutos do Senhor é repetida também neste capítulo (v.1-3). Veja que a ideia é cumprir todos os mandamentos do Senhor por todos os dias da vida, os quais seriam proporcionalmente multiplicados na terra em que passariam a habitar, ou seja, o amor e a obediência a Deus daria ao povo de Pacto o privilégio de permanecer habitando e desfrutando da Terra prometida.
O amor ao Senhor deveria ser integral, nas palavras de Moisés, “de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (6.5). Como consequência direta do amor ao Senhor, estaria o apropriar-se dos mandamentos do Senhor e o transmitir às gerações futuras (6.6-7). O grande mandamento é dado com uma enfática advertência: quando estiverem bem, na terra que eu te der, guarda-te, para não esquecer do Senhor e incorrer na idolatria (6.12-14). O Senhor é zeloso e não deixará de trazer a disciplina, como fez na peregrinação, no deserto (6.15-16). A integridade deveria ser necessariamente demonstrada pelo amor ao Senhor e pela obediência a Ele, assim, o Senhor responderia com justiça e provisão (6.24-25).
O capítulo 7 traz outra exigência de Deus para o Seu povo: para desfrutarem de toda a terra que te dou, terão que destruir todos os cananeus. Sabedor de que a soberba poderia macular o povo da aliança, o Senhor deixa evidente que os favores concedidos a eles se dão pela escolha do Senhor e não por seu valor intrínseco (7.6-8). A escolha por parte do Senhor intensifica ainda mais a necessidade de resposta obediente por parte do Seu povo. Assim, os israelitas deveriam não apenas derrotar os povos inimigos do Senhor (pois Deus estaria trazendo juízo sobre cada um deles), como também guardar os demais mandamentos do Senhor (7.11) e odiar aquilo que o Senhor detesta (7.25).
 A verdade fundamental no livro de Deuteronômio (a obediência como pré-requisito para usufruir da terra) é, mais uma vez, enfatizada (Dt 8), pela necessidade de se recordar os feitos do Senhor pelo deserto. Desta vez, o propósito do Senhor nestes 40 anos é revelado: humilhar, provar e revelar o que estava no coração de cada israelita (8.2). Porém, a bondade e a provisão do Senhor os acompanhou por todo o período de provação (8.3). Sendo assim, a aplicação imediata gira em torno da importância de não esquecer do Senhor que te redimiu da escravidão do Egito (v.11), caso contrário, seriam destruídos da mesma forma que as outras nações.
O capítulo 9 lembra a obstinação do povo de Israel e sua facilidade e rapidez em se corromper e quebrar a aliança feita com o Senhor (v.12,16,24). Diante destes fatos, o Senhor afirma aquilo que requer do Seu povo: temor, obediência, amor e serviço (10.12). Como veremos posteriormente, o capítulo 10 é chave para o tema “integridade”, por isto, nos deteremos um pouco mais posteriormente.
O capítulo 11 encerra a sessão relembrando o que o Senhor fez aos Egípcios e aos infiéis Datã e Abirão, no deserto. Estes exemplos serviram de alerta para o povo da aliança cuidar do próprio coração (v.16), a fim de não se desviar do Senhor em busca de outro deus que supostamente trariam chuva e bênçãos para a terra. Tais atitudes trariam sérias consequências para a terra e principalmente para o povo (v.17). Sabedor de que o povo poderia rapidamente se desviar e recorrer a Astarote (mesmo que ocultamente), o Senhor adverte que tal prática traria graves consequências, por outro lado, caso o povo agisse perante o Senhor com fidelidade, confiança e obediência teriam como consequência em suas vidas, bênçãos espirituais e naturais.

CRAIGIE, Peter C. Deuteronômio. São Paulo: Cultura Cristã, 2013.

THOMPSON, J. A. Deuteronômio: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1982.