Esta etapa do
livro de Deuteronômio também começa com um chamado a todo o Israel, a fim de
ouvir, aprender e obedecer aos estatutos e juízos do Senhor (5.1). Aqui, como
em 1.1 e ao longo do livro, pode-se perceber que “todos os israelitas estavam
obrigados como membros da comunidade da aliança” (CRAIGIE, 2013, p.144), porém,
a ênfase no ouvir e na obediência mostra a importância do aspecto individual
desta obrigação. Moisés, como mediador da aliança, era igualmente devedor de
uma vida íntegra diante de Seu Deus (5.31-33).
O capítulo 5
funciona como uma espécie de eixo para o livro de Deuteronômio. Este capítulo
trata do decálogo, as exigências mais básicas e gerais da aliança
deuteronomista. O decálogo foi dado pelo próprio Deus no Sinai, o qual não fora
revogado a pesar da infidelidade de Israel por todo o percurso no deserto. De
fato, a aliança no Sinai é a base do relacionamento entre Deus e Israel, por isto
foi citado em 5.2-3. No entanto, “deve-se insistir no fato de que a aliança era
mais do que uma lista de estipulações. Era fundamentalmente um relacionamento
entre Javé e Israel (cf. 4:13,14)” (THOMPSON, 1982, p.109).
O capítulo 6
discorre sobre aquele que Jesus viria a afirmar ser o maior de todos os
mandamentos (Mc 12.29-30). De uma forma ainda mais enfática, a ordem de
guardar, transmitir e cumprir todos os estatutos do Senhor é repetida também
neste capítulo (v.1-3). Veja que a ideia é cumprir todos os mandamentos do Senhor por todos os dias da vida, os quais seriam proporcionalmente
multiplicados na terra em que passariam a habitar, ou seja, o amor e a
obediência a Deus daria ao povo de Pacto o privilégio de permanecer habitando e
desfrutando da Terra prometida.
O amor ao
Senhor deveria ser integral, nas palavras de Moisés, “de todo o teu coração, de
toda a tua alma e de toda a tua força” (6.5). Como consequência direta do amor
ao Senhor, estaria o apropriar-se dos mandamentos do Senhor e o transmitir às
gerações futuras (6.6-7). O grande mandamento é dado com uma enfática
advertência: quando estiverem bem, na terra que eu te der, guarda-te, para não
esquecer do Senhor e incorrer na idolatria (6.12-14). O Senhor é zeloso e não
deixará de trazer a disciplina, como fez na peregrinação, no deserto (6.15-16).
A integridade deveria ser necessariamente demonstrada pelo amor ao Senhor e
pela obediência a Ele, assim, o Senhor responderia com justiça e provisão
(6.24-25).
O capítulo 7
traz outra exigência de Deus para o Seu povo: para desfrutarem de toda a terra
que te dou, terão que destruir todos os cananeus. Sabedor de que a soberba
poderia macular o povo da aliança, o Senhor deixa evidente que os favores
concedidos a eles se dão pela escolha do Senhor e não por seu valor intrínseco
(7.6-8). A escolha por parte do Senhor intensifica ainda mais a necessidade de
resposta obediente por parte do Seu povo. Assim, os israelitas deveriam não
apenas derrotar os povos inimigos do Senhor (pois Deus estaria trazendo juízo
sobre cada um deles), como também guardar os demais mandamentos do Senhor
(7.11) e odiar aquilo que o Senhor detesta (7.25).
A verdade fundamental no livro de Deuteronômio
(a obediência como pré-requisito para usufruir da terra) é, mais uma vez,
enfatizada (Dt 8), pela necessidade de se recordar os feitos do Senhor pelo
deserto. Desta vez, o propósito do Senhor nestes 40 anos é revelado: humilhar,
provar e revelar o que estava no coração de cada israelita (8.2). Porém, a
bondade e a provisão do Senhor os acompanhou por todo o período de provação
(8.3). Sendo assim, a aplicação imediata gira em torno da importância de não
esquecer do Senhor que te redimiu da escravidão do Egito (v.11), caso
contrário, seriam destruídos da mesma forma que as outras nações.
O capítulo 9
lembra a obstinação do povo de Israel e sua facilidade e rapidez em se
corromper e quebrar a aliança feita com o Senhor (v.12,16,24). Diante destes
fatos, o Senhor afirma aquilo que requer do Seu povo: temor, obediência, amor e
serviço (10.12). Como veremos posteriormente, o capítulo 10 é chave para o tema
“integridade”, por isto, nos deteremos um pouco mais posteriormente.
O capítulo 11
encerra a sessão relembrando o que o Senhor fez aos Egípcios e aos infiéis Datã
e Abirão, no deserto. Estes exemplos serviram de alerta para o povo da aliança
cuidar do próprio coração (v.16), a fim de não se desviar do Senhor em busca de
outro deus que supostamente trariam chuva e bênçãos para a terra. Tais atitudes
trariam sérias consequências para a terra e principalmente para o povo (v.17).
Sabedor de que o povo poderia rapidamente se desviar e recorrer a Astarote
(mesmo que ocultamente), o Senhor adverte que tal prática traria graves
consequências, por outro lado, caso o povo agisse perante o Senhor com
fidelidade, confiança e obediência teriam como consequência em suas vidas,
bênçãos espirituais e naturais.
CRAIGIE, Peter C. Deuteronômio. São
Paulo: Cultura Cristã, 2013.
THOMPSON, J. A. Deuteronômio:
introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1982.