Pr. Charles Bronson
O “maluco beleza”, Raul Seixas,
marcou uma geração por sua lucidez em entender os sistemas de pensamento que o
rodeavam a ponto de questioná-los e influenciar outros no mesmo sentido. Fazia
isso através de suas composições e interpretações semeadoras de cosmovisões.
O termo cosmovisão é tradução
da palavra alemã Weltanschauung, que significa "modo de olhar o
mundo" (welt, "mundo"; schauen, "olhar"). “É um
conjunto de pressuposições [hipóteses que podem ser verdadeiras, parcialmente
verdadeiras ou inteiramente falsas] que sustentamos [consciente ou
inconscientemente, consistente ou inconsistentemente] sobre a formação básica
do nosso mundo.” (James W. Sire).
De forma genial, Nancy Pearcy
define cosmovisão como um mapa mental que nos diz como navegar de modo eficaz
no mundo. E são muitas as opções para os viajantes: positivismo, liberalismo, marxismo,
humanismo, pós-modernismo etc. Alguns destes mapas, obsoletos para uns, sempre
úteis para outros.
Esses muitos “ismos” servem
como uma “caixa de ferramentas filosóficas abarrotada de termos e conceitos”, montando
um padrão de ideia e comportamento humanos. Observemos, em síntese, o perfil de
um deles, o pós-modernismo – uma das de ferramentas filosóficas mais utilizadas
em nossos dias.
Uma alternativa ao pensamento
moderno, ainda que hoje, anda em paralelo. Trata-se de um conceito muito amplo,
ainda em construção, mas que já tem desconstruído muitas estruturas de
pensamento, redefinindo conceitos e reinterpretando leituras de mundo.
O Pós-Modernismo é,
principalmente, uma abordagem epistemológica (trata da natureza e a justificativa
para o conhecimento/verdade). Busca a resposta para perguntas do tipo: Como sabemos o que sabemos? Como saber se o
que sabemos é verdade? O filósofo
cristão J. P. Moreland explica que esse mapa mental, representa uma forma de
relativismo cultural sobre coisas como a verdade, a realidade, a razão, os
valores, o significado linguístico, o 'eu' e outras noções.
Comemora a queda dos pilares
absolutos e erguem fortes bases fincadas no relativismo ou pluralismo como
sustentação da mentalidade humana. Sua versão religiosa, em síntese, se
manifesta nos chavões: “Fé é, por definição, individual e subjetiva!” ou “Qualquer
crença é a verdade, se ela for verdadeira para mim!”. Uma rejeição enfática a
qualquer afirmação de verdade absoluta.
Diante
disso, o crente precisa ter em mente uma cosmovisão bíblica. Ser capaz de ler o
mundo com as lentes da fé cristã e quando navegar em mares desconhecidos não se
deixar levar por qualquer onda de pensamentos, muitos dos quais contrariam a
verdade de Deus. Ter a convicção de que os princípios revelados na Bíblia são atemporais,
superiores à opinião pública e independem do veredicto de “intelectuais
orgânicos” para serem considerados relevantes.
Nesse sentido, o primeiro
capítulo do livro de Daniel torna-se uma ferramenta bíblica útil, ao explicar
como ele e seus companheiros venceram uma difícil batalha entre cosmovisões. Uma
trajetória que serve de referencial para uma mentalidade que conduz a um
comportamento para a glória de Deus.
No meio de uma geração que se
corrompia, Daniel possuía valores absolutos. O fato de não ter sido devorado na
cova dos leões é admirável; mas outro fato também é digno de nota: Daniel não
deixou que as cosmovisões que o rodeavam devorassem sua mentalidade, tornando-se
mais uma presa do sistema de pensamento babilônico.
O império babilônico era o
mais poderoso da época, e a capital Babilônia a cidade sede de um panteão de
divindades (idolatria), capital mundial da astrologia e feitiçaria, berço de
uma das sete maravilhas do mundo antigo (os Jardins suspensos da Babilônia). Um
polo científico do mundo de então. E Daniel era um jovem de reconhecida
capacidade intelectual; mas não foi por meio de um “ciências sem fronteiras” do
governo de Israel que ele chegou até a Babilônia. Historicamente, era o momento
em que as mãos do rei Nabucodonosor tomavam conta de grande parte do mundo
antigo em disputa, mas, soberanamente a mão de Deus disciplinava seu povo,
Israel, com o triste Cativeiro babilônico.
Quando aconteceu uma seleção
do governo (concorridíssimo e de alto nível), Daniel foi um dos poucos
aprovados. Daniel entendia o mundo sem absorver o mundanismo. Não demonizou a
cultura em si, mas vigiou para não cair nas armadilhas de um ambiente que “jaz
no maligno”. Ele rejeitou as “finas iguarias do rei”, porque se deliciava
diariamente com alimento da preciosa comunhão pessoal com Deus. Não adotou um
mapa mental babilônico, pois não queria se afastar do Senhor.
No ano 539 a.C, o império
babilônico ruiu, derrotado pelo exército Persa. Mas, na guerra de cosmovisões,
Daniel permaneceu firme na fidelidade a Deus, vencendo os conflitos
ideológicos, num campo minado de ideias antibíblicas.
Assim como Daniel, em qualquer
geração deste lado da vida, um crente precisará manter-se firme numa cosmovisão
bíblica diante de outras leituras de mundo que, de maneira parcial ou
inteiramente, ameaçam nosso compromisso com a glória de Deus. Principalmente
nesse nosso mundo pós-moderno que elogia com entusiasmo o perfil “metamorfose
ambulante” e deprecia com militância os que mantêm “uma velha opinião formada”
sobre quase tudo.